O que é um cisto de aracnóide?
O cisto de aracnóide, ou somente cisto aracnóide, é uma coleção de líquido cefalorraquiano ou também chamado de líquor (líquido que está presente dentro do nosso cérebro), que por algum defeito na nossa formação, ainda na fase fetal, ficou preso entre as membranas que revestem o cérebro.
São 3 as membranas que cobrem o cérebro:
- Dura-máter: que é a mais superficial, espessa e aderida ao osso;
- Pia-máter: que é a mais interna, fina e aderida ao cérebro;
- Aracnóide: que forma uma rede parecida com uma teia de aranha, como o próprio nome diz.
Os cistos aracnóide podem se expandir no espaço entre a pia-máter e a membrana aracnóide (espaço subaracnóide)
Os cistos de aracnóide são comuns?
Os cistos de aracnóide representam 1% das lesões com efeito expansivo no sistema nervoso. Um cisto aracnóide é identificado em 1,4% dos pacientes adultos submetidos a uma ressonância magnética e em 2,6% das crianças submetidas a ressonância magnética. Isto quer dizer que é uma doença relativamente comum, mas muitas vezes não diagnosticada porque não causam sintomas na maior parte das vezes.
O que causa um cisto de aracnóide?
A maioria tem origem congênita. Os cistos aracnóide congênitos são também chamados de primários. Em alguns casos podem se formar cistos após o nosso nascimento, estes são chamados cistos secundários. Os cistos aracnóide secundários não são tão comuns quanto os cistos primários e se desenvolvem como resultado de uma inflamação do espaço subaracnóide em pacientes com dano na cabeça, infecção, ou hemorragia intracerebral.
Por que um cisto de aracnóide se forma?
O mecanismo de formação dos cistos vem sendo muito estudado. Existem muitas teorias sobre a origem dos cistos aracnóides, incluindo infecção, trauma, hidrocefalia e alterações metabólicas, mas nenhuma explicação única foi aceita.
Em relação aos cistos congênitos uma das teorias mais aceitas diz respeito a divisão da membrana aracnóide durante a formação do sistema nervoso. O crescimento do cisto ocorreria então ao longo do tempo. As razões para o crescimento são mal compreendidas, tendo sido propostas muitas teorias incluindo:
1- o gradiente de pressão do líquor no interior das cavidades do cérebro,
2- o gradiente oncótico de proteínas aumentadas em cistos ou membranas secretoras,
3- o mecanismo de válvula das membranas aracnóides que facilitam a passagem do líquor para o interior do cisto e dificultam a saída, assim o líquido entra e não consegue sair daquele espaço, aumentando progressivamente o tamanho do cisto.
Onde estes cistos são mais frequentes?
A localização varia em diversas partes do cérebro, podendo inclusive (mais raramente) ser encontrados na região da coluna. No cérebro são mais comuns na região da fissura silviana ou fossa média (42 até 50% dos casos), seguido pela fossa posterior (24%) e região supraselar (10%).
O que uma pessoa que tem um cisto de aracnóide sente?
Aí está o problema, porque grande parte das pessoas que tem um cisto de aracnóide não sentem absolutamente nada. Na verdade, isso não chega a ser um problema, porque cistos que não produzem sintomas geralmente não necessitarão de nenhum tipo de tratamento cirúrgico.
Em outros casos estas lesões podem acabar levando a alguns sintomas, que devem ser considerados e analisados pelo neurocirurgião. Isto porque, muitos dos sintomas que podem estar relacionados aos cistos de aracnóide são inespecíficos, portanto, podem não melhorar após o tratamento dele e estarem ocorrendo devido a outra causa. Diante de uma análise clínica e do estudo de exames complementares o neurocirurgião pode ou não chegar a uma conclusão definitiva e optar por operar ou acompanhar o cisto.
Os sintomas que podem comumente estar relacionados aos cistos, são:
- Dores de cabeça – é o sintoma mais comum!
- Dificuldades na audição, zumbidos, tonturas
- Dificuldade visual
- Náuseas e vômitos
- Fraqueza ou dormência em alguma parte do corpo
- Dificuldades de equilíbrio e/ou coordenação
- Crises convulsivas
- Em crianças: aumento do tamanho da cabeça, atraso no desenvolvimento, problemas com a fala, dificuldade de andar, além dos sintomas acima.
Vale ressaltar que os cistos supraselares, por sua proximidade com a glândula hipofisária e o 3º ventrículo podem causar alguns sintomas específicos como doenças endócrinas, anormalidades visuais e alteração de marcha. Alguns cistos de aracnóide podem também causar hidrocefalia.
Meu laudo de exame diz que tenho cisto de aracnóide, e agora???
Bom, se você fez um exame de tomografia ou ressonância de crânio por qualquer motivo e no seu lado diz que você tem um cisto de aracnóide, não há motivo para desespero. Isso porque, conforme já dissemos, a maior parte dos cistos de aracnóide são descobertos assim mesmo, por acaso, e a maior parte deles não necessita de tratamento cirúrgico.
O que fazer então? Você deve levar este exame a uma consulta com um neurocirurgião que irá avaliar suas queixas (se você tiver alguma) e os seus exames, levando em consideração o tamanho do seu cisto, localização, etc. e assim avaliará a necessidade de tratamento dele: se será feito apenas acompanhamento ou mesmo se será necessária alguma cirurgia. Geralmente cistos menores e assintomáticos não são cirúrgicos. Os cistos que geralmente necessitam de cirurgia são aqueles maiores, que causam compressão do cérebro e/ou desvio de linha média, e que tem sintomas associados.
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Qual o tratamento de um cisto de aracnóide?
Se seu neurocirurgião avaliou seu caso e disse que você tem indicação de tratar seu cisto, existem algumas possibilidades de tratamento:
1- Cirurgia aberta – esse é o método clássico e mais tradicional. Nesse caso o cirurgião faz uma cirurgia aberta, ou seja, abre o crânio do paciente no local do cisto e remove suas paredes. O problema desta cirurgia é apenas que por ser uma cirurgia maior demanda maior tempo de recuperação e tem maior risco. Ainda hoje ela é bastante utilizada.
2- Neuroendoscopia – este tipo de cirurgia vem ganhando espaço no tratamento dos cistos cerebrais. Entretanto, vale lembrar que ela não é possível para todos os tipos de cistos. Neste tipo de cirurgia é feita uma cirurgia craniana endoscópica, onde o neurocirurgião entra no cisto com um aparelho (o neuroendoscópio) com iluminação e câmera e consegue “fenestrar” o cisto, que nada mais é do que comunicar o cisto com outras regiões do cérebro, permitindo que o líquido passe livremente em seu interior e diminua a pressão que o cisto exerce no cérebro. Costuma ser minha primeira escolha para cistos cerebrais intraventriculares. Você pode aprender mais sobre esta cirurgia clicando aqui.
3- Derivação cisto-peritonial (válvula) – neste caso é colocada uma válvula que tira o líquido de dentro do cisto e joga esse líquido para outra parte do corpo, mais comumente a barriga.
4- Cirurgia híbrida com técnica “mini-open” – Esta particularmente é o meu tipo preferido para cistos aracnóides temporais. Nela fazemos uma pequena incisão na pele (cicatriz de cerca de 3-4cm) por onde é possível fazer a abertura do cisto com uso de microscópio cirúrgico e também assistida por endoscopia. Pode ser usada uma ou as 2 modalidades de acordo com o andamento da cirurgia. Ela é diferente da neuroendoscopia pois nesse caso um tipo de endoscópio diferente é usado para “assistir a cirurgia” enquanto usamos os instrumentais a mão livre. Na técnica neuroendoscópica os instrumentais são mais limitados pois tem que passar por dentro do neuroendoscópio.
Quais os riscos de ter um cisto de aracnóide e não fazer cirurgia? Cisto de aracnóide pode virar câncer?
Se você foi no seu neurocirurgião e ele optou pelo tratamento conservador (sem cirurgia) do seu cisto, muitas vezes você pode ter as dúvidas acima, que são as 2 perguntas mais frequentes que eu escuto no consultório de pacientes que estão tratando conservadoramente cistos de aracnóide.
O risco geral de um cisto aracnóide não operado é que:
1- Ele cresça e comece a comprimir o cérebro e causar sintomas – bom, é para isso que acompanhamos o cisto. Caso ele cresça e produza sintomas nós podemos propor a cirurgia mais adequada para ele.
2- Ele sangre – A hemorragia dentro do cisto aracnóide pode ocorrer espontaneamente ou após traumatismos cranianos, mesmo pequenos. A provável explicação é que os vasos sanguíneos que podem ser encontrados em torno de um cisto aracnóide nas suas paredes tem pouco suporte porque ficam em cima de uma “bolha de líquido”, e os movimentos bruscos poderiam rompê-los. Existem outras explicações, como a diferença do coeficiente de material entre o líquido do cisto e do cérebro que produziriam diferentes efeitos de aceleração-desaceleração em um traumatismo craniano. Esse tipo de complicação não é frequente e é proporcionalmente maior quanto maior for o cisto. A cirurgia em geral previne parcialmente este tipo de complicação, pois reduz a tensão nas paredes do cisto.
Quanto a este medo dos pacientes de um cisto virar câncer, fiquem tranquilos. O cisto de aracnóide não tem relação com câncer do cérebro. O que pode acontecer é que o paciente pode ter um tumor cístico, não relacionado ao cisto aracnóide, e daí você pode ter ouvido alguém falar que um cisto era um tumor e pronto: bateu o desespero. Mas os cistos de aracnóide tem uma imagem bem típica na ressonância magnética e raramente podem ser confundidos com qualquer tipo de tumor cístico do cérebro.
Que cuidados uma pessoa com cisto de aracnóide deve ter?
Em geral, pede-se para evitar esportes radicais e de alto impacto, pelo risco teórico de ruptura do cisto. Entretanto, sabemos que o cisto pode romper-se até mesmo com mínimos traumas. Além do mais, esta restrição é mais válida para cistos maiores em tratamento conservador, uma vez que cistos menores raramente rompem e/ou sangram. De resto vida normal, não há restrições alimentares, nem de qualquer outra natureza.
O que sente o paciente quando o cisto rompe? O que devemos fazer?
O sintoma mais comum da ruptura do cisto é dor de cabeça forte e súbita que pode estar associada a náuseas e vômitos. Caso você tenha acabado de ter um traumatismo craniano mesmo que leve, a situação é ainda mais preocupante. Para uma avaliação correta, deve-se ir ao pronto socorro e contar que você tem o diagnóstico de cisto de aracnóide.
Caso tenha havido um sangramento intracisto o neurocirurgião avalia o caso e pode ou não achar adequado fazer uma cirurgia para drenagem do coágulo que se formou no cisto, a depender do tamanho do sangramento e quadro clínico do paciente.
Lembramos que este evento é relativamente RARO se levarmos em consideração a quantidade de pessoas com cistos de aracnóide e a quantidade de cistos que sangram. Portanto, e importante saber da possibilidade, mas não há motivos para desespero.
Quando procurar um neurocirurgião?
Sempre procure um neurocirurgião caso tenha o diagnóstico recente de um cisto de aracnóide. Ele lhe orientará sobre o acompanhamento e as possibilidades de tratamento caso sejam necessários. Se você tiver sintomas neurológicos, relate na sua consulta.