Neurooncologia
Conheça mais sobre neurooncologia
Qual o diferencial de um especialista em neurooncologia no seu tratamento?
A neurooncologia é uma subárea da neurocirurgia que abrange o tratamento e acompanhamento de pacientes que possuem tumores no sistema nervoso: que inclui as neoplasias do cérebro, da coluna e da medula. Receber o diagnóstico de um possível tumor no cérebro ou na medula não é nada fácil… Além do medo da morte inerente a qualquer ser humano, o paciente com tumor no sistema nervoso enfrenta muitos outros medos: o medo da dor, do sofrimento, da sequela neurológica, da dependência de outras pessoas ou de familiares… Por este motivo, o neurocirurgião que se especializa em neurooncologia tem um treinamento mais específico para lidar com esta doença tão desafiadora e por vezes tão aterrorizante para as famílias e para os pacientes em todas as faixas etárias: de recémnascidos a idosos.
Além do preparo técnico para escolher a melhor estratégia terapêutica para vencer ou controlar a doença, o neurooncologista tem também a sensibilidade emocional para lidar com as dificuldades do diagnóstico, da aceitação da doença e da comunicação de notícias para a família e os pacientes. Ele participa com toda equipe multiprofissional para dar o seguimento e apoio necessários ao paciente em todas as etapas da sua doença, e sua expertise pode contribuir muito para a equipe que trata o paciente.
Entrevista com a especialista
Você sabia que há profissionais especializados em tratar tumores do cérebro? Tire estas e outras dúvidas lendo o bate-papo abaixo:
Dra Raquel – Sempre que houver alguma suspeita de doença oncológica (tumor) no sistema nervoso um neurocirurgião oncológico deve ser consultado. Ele é o profissional que avaliará se a doença pode ou não ser tratada com cirurgia ou quais as melhores alternativas de tratamento serão realizadas, em conjunto com o restante da equipe que dá suporte ao paciente.. Muitas vezes, a consulta com o neurocirurgião ocorre por indicação do oncologista clínico do paciente, que o encaminha ao detectar uma metástase para o sistema nervoso, por exemplo. Em outras situações, o neurologista ou neurooncologista clínico indica o paciente para o neurocirurgião, ao descobrir um tumor no sistema nervoso durante sua investigação diagnóstica.
Dra Raquel – O neurocirurgião neurooncológico trata virtualmente todos os tipos de tumores que aparecem no cérebro e na medula. Os principais (mais comuns) são:
Tumores no cérebro: gliomas (astrocitoma, oligodendroglioma, glioblastoma multiforme, etc), meningiomas, neurinomas (schwanomas) metástases cerebrais, meduloblastoma, ependimoma, tumores da pineal, tumores da hipófise, craniofaringioma, tumores do plexo coroide, tumores da calota craniana, entre outros.
Tumores na medula: tumores intramedulares como gliomas (astrocitoma, oligodendroglioma, etc) e ependimomas, tumores extramedulares como meningiomas, neurinomas (schwanomas), lipomas, entre outros.
Dra Raquel – A cada dia mais muda a forma como os profissionais especializados em neurooncologia enxergam os tumores do sistema nervoso. Com os avanços genéticos e moleculares, novas classificações foram propostas em 2016 e com ela novas diretrizes de tratamento. Os avanços tecnológicos como tractografia, monitorização neurofisiológica e neuronavegação ao mesmo tempo tornaram as cirurgias cada vez menores, mais rápidas, mais precisas e mais seguras.
Evoluímos muito também nas próprias técnicas cirúrgicas: refinamentos como a cirurgia cerebral com paciente acordado (”awake craniotomy”) permitiram operar tumores em áreas nobres do cérebro sem ou com mínimas sequelas. A neurooncologia do século 21 tende a ser cada vez menos invasiva do ponto de vista cirúrgico e mais efetiva do ponto de vista genético-molecular.
Dra Raquel – Não há uma resposta só para esta pergunta, porque muitas coisas devem ser levadas em consideração. O que mais influencia no risco de sequelas de uma cirurgia de tumor é o seu tamanho, tipo e localização. Quanto maior e mais invasivo o tumor, mais difícil é de retirá-lo, mais ele “gruda” em estruturas cerebrais importantes e pode deixar sequelas na cirurgia. A localização também é muito importante quando analisamos o risco da cirurgia. Tumores em áreas vitais do cérebro, como próximos da área da fala ou da área que comanda os movimentos têm risco muito maior.
Atualmente, sabemos que com as novas técnicas cirúrgicas e os avanços tecnológicos disponíveis, mesmo em situações difíceis, o risco de sequelas diminuiu muito, o que nos deixa muito mais seguros de propor cirurgia para nossos pacientes.
Dra Raquel – Isto também é relativo. Algumas cirurgias de tumor duram poucas horas, outras podem durar até um dia inteiro, mas a maior parte varia entre 2 a 6 horas de duração.
Quanto ao tempo de internação, o neurocirurgião neurooncologista deve focar em minimizar ao máximo este tempo. Quando se trata de um tratamento de um tumor, sobretudo maligno, tempo é crucial! A estratégia cirúrgica deve ter o objetivo de ser minimamente invasiva, mas ao mesmo tempo cumprir o seu papel no tratamento oncológico, ressecando o máximo de tumor que a circunstância permite, e deixando o paciente sem sequelas ou com sequelas neurológicas mínimas. Isso fará com que ele tenha uma alta precoce, possa logo retornar ao oncologista clínico e prosseguir com a reabilitação e complementação de seu tratamento com quimio ou radioterapia se for necessário. Para alguns casos, tudo correndo conforme esperado, é possível que o paciente vá para casa até mesmo em 24-48h após uma cirurgia de tumor no cérebro ou na medula.
Dra Raquel – O neurocirurgião neste contexto não tem papel nem mais nem menos importante que os demais profissionais envolvidos no tratamento do paciente com um tumor no sistema nervoso. A cirurgia que eu realizo só vai ajudar o meu paciente se for bem indicada, e estiver no momento certo do tratamento oncológico do paciente como um todo. Embora para alguns tumores do sistema nervoso a cirurgia tenha um papel-chave para aumentar a sobrevida ou promover a cura, eu não posso com ela atrasar ou interferir no restante do tratamento do paciente (quimio, radio ou imunoterapia).
Por este motivo, a indicação da cirurgia neurooncológica não é uma decisão somente do neurocirurgião, precisamos do oncologista clínico para dar o suporte e acharmos o momento certo para fazê-la, dentro do programa terapêutico para aquele paciente. Os demais profissionais como fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiologistas, enfermeiros, intensivistas, entre outros, também são peças fundamentais deste quebra-cabeça, e seu suporte e opinião também são muito importantes para tomada de algumas decisões neste contexto. O neurocirurgião que não compreende seu papel nesta equipe multidisciplinar, não consegue ter sucesso em promover a qualidade de vida, a sobrevida ou a cura do seu paciente.