Veja no final do texto os links para os vídeos do meu canal no YouTube – Neurocirurgia é assim – relacionados com este tema.
Que tipos de tumor cerebral existem?
Os tumores cerebrais são chamados primários ou secundários. Os tumores primários são aqueles que nascem de células próprias de estruturas do sistema nervoso. Já os tumores secundários são aqueles que vem de células não relacionadas ao sistema nervoso, sendo mais comum as metástases cerebrais de tumores não relacionados ao cérebro.
Quais os tumores cerebrais mais comuns?
Os tumores cerebrais primários mais comuns são os meningiomas e os gliomas, que já falamos em outros textos aqui no site, e representam juntos quase 65% dos tumores cerebrais.
Veja abaixo algumas estatísticas da American Brain Tumor Association em 2016:
- Meningiomas representam 36,4% de todos os tumores cerebrais primários, tornando-o tumor cerebral primário mais comum. Haverá um número estimado de 24.880 novos casos em 2016. Saiba mais sobre meningiomas aqui.
- Os gliomas representam 27% de todos os tumores cerebrais e 80% de todos os tumores malignos. Saiba mais sobre gliomas aqui.
- Astrocitomas, incluindo o glioblastoma, representam aproximadamente 75% de todos os gliomas.
- Glioblastoma multiforme (um tipo de glioma) representa 15,1% de todos os tumores cerebrais primários, e 55,1% de todos os gliomas.
- O glioblastoma multiforme tem o maior número de casos de todos os tumores malignos, com um número estimado de 12120 novos casos previstos em 2016. Saiba mais sobre glioblastoma multiforme aqui.
- Os tumores hipofisários representam 15,5% de todos os tumores cerebrais primários. Haverá cerca de 11.700 novos casos de tumores da pituitária em 2016. Saiba mais sobre tumores hipofisários aqui.
Quais os sintomas de um tumor cerebral?
Os tumores cerebrais podem dar sintomas neurológicos diferentes dependendo da localização que se encontram. Entretanto, alguns sintomas mais gerais são comuns a diversos tipos de tumor como: dor de cabeça, crises convulsivas, alterações cognitivas como confusão, alterações de memória e raciocínio, fraqueza de um lado do corpo ou dormências.
Quando há suspeita de uma lesão cerebral sempre solicitamos um exame de imagem que pode ser a tomografia do crânio, mas geralmente a ressonância cerebral é preferida por dar maiores detalhes.
Como sabemos que tipo de tumor o paciente tem?
Em primeiro lugar os médicos vão analisar a localização e a aparência do tumor na ressonância magnética. Alguns tumores cerebrais recebem nomes e classificações de acordo com a região do cérebro que acometem e as células que o compõem. Porém, é importante ressaltar que, por mais que a ressonância sugira um tipo tumoral específico, o diagnóstico definitivo vem apenas quando o neurocirurgião tira um pedacinho do tumor e manda para análise do médico patologista. Olhando este tumor no microscópio podemos ver então que células e o comportamento dessas células que compõem o tumor, e classificá-lo de forma precisa.
Veja abaixo algumas localizações possíveis de tumores no cérebro:
1. Tumores da região da glândula pineal – pineocitomas, tumores de linhagem glial (gliomas), tumores de células germinativas.
2. Tumores neuroectodérmicos primitivos (PNET) – meduloblastoma, retinoblastoma, ependimoblastoma. São tumores extremamente agressivos e mais comuns em crianças, podendo inclusive se disseminar pelo sistema nervoso.
3. Tumores dermóides e epidermóides
4. Gliomas atípicos – astrocitoma subependimário, astroblastoma, astrocitoma pilomixóide, ganglioglioma.
5. Tumores do plexo coróide – papiloma e carcinoma de plexo coroide. São tumores localizados no interior dos ventrículos cerebrais.
6. Tumores de células ependimárias – ependimoma.
7. Hemangioblastomas
8. Linfoma do sistema nervoso central
9. Tumores da glândula hipofisária – adenomas e carcinomas hipofisários, sendo os adenomas muito mais comuns. Veja mais sobre este tipo de tumor clicando aqui.
10. Outros: cordomas, craniofaringiomas, schwanomas, neurinomas, etc.
Esses são apenas alguns dos muitos tipos de tumores cerebrais que podemos ter. Como podemos perceber são muitos os subtipos e classificações. Cada qual com suas características radiológicas (na ressonância magnética) e seu tratamento específico.
Todo tumor cerebral tem que ser tratado com cirurgia?
Depende muito do tipo do tumor, seu tamanho, sua localização e suas características radiológicas. O neurocirurgião analisará o paciente e seus exames e poderá decidir inicialmente pelo acompanhamento clínico, biópsia ou cirurgia aberta ou minimamente invasiva, dependendo das características apresentadas.
Faz-se quimioterapia e radioterapia para tumores cerebrais?
Em alguns casos sim.
Como funciona quimioterapia para tumores cerebrais?
A quimioterapia utiliza drogas citotóxicas para destruir células cancerígenas. Eles trabalham interrompendo o crescimento das células doentes. No caso de tumores no cérebro podemos usar a quimioterapia nas seguintes situações:
- Após a cirurgia para alguns tipos de tumor cerebral, para tentar impedi-lo de voltar.
- Para aumentar a sobrevida, nos casos que não há chance de cura.
- Para tratar uma recidiva, um tumor cerebral que voltou a crescer após um primeiro tratamento.
A quimioterapia não funciona para todos os tipos de tumor cerebral. A dificuldade de usar a quimioterapia em tumores cerebrais vem do fato que o cérebro é protegido por uma barreira sanguínea chamada de barreira hemato-encefálica, um filtro natural dentro do corpo, que só permite que certas substâncias cheguem através do sangue para os tecidos cerebrais. Alguns medicamentos podem atravessar a barreira hemato-encefálica e alguns tumores cerebrais ao danificar essa barreira acabam permitindo que a quimioterapia chegue ao cérebro.
Os subtipos de tumores onde mais frequentemente usamos quimioterapia são:
- Gliomas de alto grau
- Gliomas em crianças
- Oligodendroglioma
- Ependimoma
- Meningioma alto grau (pós-recidiva)
- Tumores neuroectodérmicos primitivos (PNETs) em crianças e em recidivas
- Germinomas da glândula pineal e alguns outros tumores na região pineal
- Linfoma primário do sistema nervoso central
- Metástase cerebral
A quimioterapia pode ser administrada na forma de comprimidos ou cápsulas ou como injeções na veia. Nessas formas de administração ela precisa passar pela barreira hemato-encefálica. É possível ainda, em alguns casos específicos, injetar algumas drogas para no fluido que circula em torno do cérebro e da medula espinhal (o líquor ou líquido cefalorraquidiano). Nesses casos a injeção pode ser feita durante uma punção lombar e é conhecido como tratamento intratecal. Em uma outra possibilidade, o neurocirurgião pode colocar em um dispositivo de plástico, em forma de cúpula sob a pele do couro cabeludo, chamado dispositivo de acesso ventricular ou reservatório de Ommaya. O dispositivo tem tubo fino sobre a superfície inferior que vai para os espaços cheios de fluido (ventrículos) do cérebro. Ao colocar uma agulha através da pele e para o reservatório o médico pode injetar a quimioterapia adequada também intratecal. Nessa forma de administração burlamos a barreira hemato-encefálica, mas nem todas as drogas podem ser administradas dessa forma pois podem lesar o cérebro normal.
Como funciona a radioterapia para tumores cerebrais?
A radioterapia usa ondas de alta energia (raios-X) para tratar o câncer. É um tratamento comum para tumores cerebrais. A radioterapia pode ser usada:
- Como principal tratamento, se você tem um tumor cerebral que o cirurgião não pode remover.
- Após uma cirurgia, para tentar diminuir o risco de tumor cerebral voltar no futuro.
- Para tratar recidivas, quando o tumor volta após uma cirurgia.
O paciente é encaminhado para o tratamento de radioterapia no hospital. A radioterapia para um tumor cerebral geralmente tem uma série de tratamento de 3 a 7 semanas. Um curso mais curto de radioterapia paliativa para ajudar com os sintomas ou desacelerar o crescimento do seu tumor, normalmente dura cerca de 2-3 semanas.
Alguns hospitais têm máquinas de radioterapia que dão um tratamento muito focalizado e mais concentrado chamado de radioterapia estereotáxica. Este tratamento dá altas doses de radioterapia para a área do tumor, e pode tratar alguns pequenos tumores em certas áreas do cérebro. Antes de iniciar a radioterapia faz-se uma máscara da sua face, que é utilizada durante o tratamento para planejamento e aplicação da radiocirurgia. Assim, as marcas que os radiologistas precisam para alinhar a máquina de radioterapia podem ser feitas sobre a máscara em vez de em sua pele.
Afinal, radioterapia, quimioterapia, os dois ou nenhum dos dois?
Conforme já explicamos, essa decisão depende do tipo e localização do seu tumor, entre outros fatores. Por esse motivo, uma decisão conjunta com a equipe de neurocirurgia e de oncologia é necessária.